20.7.06

Foto: Werinton Kermes

ALGUÉM CHAMADO DE HOMEM E DE PAI

De tudo, talvez, permaneça aquilo que nunca emudece. As horas que nunca se apressam.
A arquitetura das coisas nas gavetas.
De tudo, talvez, permaneça aquele pássaro que se perdeu do bando, uma nota fria no gelado dos dedos, uma foto sem legenda.
De tudo, talvez, permaneça aquilo que não mora na boca, não veste adjetivos e é decapito de intenções.
De tudo, talvez, permaneça aquilo que não é matéria, que não é manchete e não se prende com os dedos. Permaneça a presença que a falta ocupa, ou a culpa de não ter prendido o instante.
De tudo talvez permaneça...Mesmo que a sentença seja triste, rastros de bondade, e centelhas de esperança.
Permaneça a lembrança das portas abertas como os dedos das mãos – como os dedos que apontam e aprontam um aceno.
De tudo, talvez, permaneça o assombro - ante a moda, a morte e o medo. A calma de não possuir as respostas.
De tudo talvez, nada permaneça. Nem a lembrança, nem a carta, nem a malha verde. Não permaneça a música dos trovões e as estrofes para rimar comigo.
De tudo, talvez, nada tenha acontecido. E amanhã restará tudo ainda a se fazer...

(Lento era o dia que não ensaiávamos lamento....Não terminar minha carta é guardar um pouco desse tempo)

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