11.2.08

imagem: Bruno Cecim
- Me manda uma poesia? É quase maio.

E ele entendeu que por ser quase maio, por ser quase infinitamente maior, a voz dela não mais aparecia em caixa alta. Desenhava as palavras.
Ela que ficava bonita até enfeitada, às vezes apagava-se sozinha interrompendo as forças. As dele. Que morria pequeno, em areia, ao procurar entender como podia, tal criatura, partir-se ao meio, em aberto. E recebendo apenas um pedaço fálico, torná-lo inteiro.
O sarro da voz emaranhada distorcida num cenário de guerra. O cheiro das primeiras horas da roupa pega no varal.
Um mar e o mal do sal nos olhos nunca a impediram de esperar as ondas. Enquanto ele cuspia a ira da invasão de líquido salobro e espuma branca que a tomavam de sol a face.
Se ela pedisse, ele coraria o dia com algodões coloridos. Passaria mirando o céu sem interromper o cenário. Escreveria em cadernetas alaranjadas duas letras de um alfabeto morto e uma receita de bolo de liquidificador.
Mas não mandou um poema. Pois já era quase maio.Quase amor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Como ousas falar de mim sem me conhecer?

Lindo... tão minha suas palavras....

e de mais: pagopauprocê, nega!

Anônimo disse...

até receita de bolo de liquidificador vira poesia nos dedos dela.

será o fermento?