8.11.06

Foto: Yves

Relatório dos dias em que o mundo lhe cobra em moedas
Com saudades do homem - pai. Para minha mãe.

Meu pai me carregava como um pacote de supermercado, entre os braços, com cansaço disfarçado na proteção. Meu pai ria do meu tropeção antes, para que eu não chorasse. Dava-me a mão e uma reprova pela desatenção no azul perdido dos seus olhos moles. Meu pai chorava escondido quando eu acenava de um ônibus – indo.
Quando ele foi eu chorei constrangida, procurando o riso que vinha antes pra inibir a dor.
Quando ele foi eu fiquei procurando seu olhar um tempo, me revirando nas poltronas, segurando um aceno.
Quando ele foi eu fiquei despedaçando o mundo, muda, tentando ouvir alguém que acreditasse como ele nas coisas simples da vida. Na casa bonita sem divisórias, cheia de gente. Procurando o bem que se faz por ser bom e só.
Eu passei muito tempo procurando nos homens a crença dele, de que esperar a recompensa é como esperar o troco. A bondade é mais rara do que os axiomas de perfeição estampado nas camisetas, impostados nos discursos.
O mundo, sem meu pai, conta moedas. (Logo, não me comovo).

2 comentários:

Luciana Lopez disse...

Fiquei emocionada fia. De verdade!

zest artes e comunicação disse...

Maravilhoso...