4.6.08

Despachos
imagem: Yves
"Nos meus retiros espirituais, descubro umas coisas tão banais...Que gente maluca tenta resolver" (Gil em Retiros Espirituais)
27
Aquilo que desenhava na alma. Cheia de dedos. Presa. Começa a doer à cabeça, o coração. Os lábios amortecidos da mesma posição de minutos. Travando aquilo que não tem como sair. Ela tem um teclado, ela está trancada, ela adoece no espelho e se enfeita de instantes. Ela tem vocação e afeições – vive aflita. Ela mora no 27.

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Bolha
Não assumo a fala em primeira pessoa. Quase nunca. E aos pouco vem à necessidade em queimar a ponta dos dedos. Agora a coleção de bitucas desenha uma flor de pétalas branca ao lado de um telefone. Mudo. Há de haver um lugar no mundo onde caiba a dúvida. Ligo. Não ligo.

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Espelho de teto
Você fala, eu desenho. E essa voz que muda e interpreta. Eu quase muda. Aí você se demora em dar as chaves. Eu não descanso enquanto morro. De você, os tratados formais. Agora já chega um pouco mais cedo. Não sei se gosta. E aceito que me confira um grau para qualquer talento. Enquanto caço olheiras pelo retrovisor. Nem me questiona sobre o meu tanto de visitas. Engrossa as vistas e se preocupa com as outras estações. Pare o carro! Pede alguém à frente. A gente nem se olha. A estrada logo acaba onde inicia a outra.

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Estação
Não é difícil. Também não dói daquele jeito de querer juntar os joelhos no estômago – e espremer a nesga de espaço que nada sente. E não acontecem sinais no céu. Nada de roxo-laranja-rosa. Nada de sol insone ou de luz exibida. Não escorre. Não brotam escamas, esporas da minha pele que sente calor e frio e meia-estação. Mesmo sem nunca ter entendido o que é meia-estação. Não mato e se morro é só até o final da música. Aperto o botão.

Um comentário:

Felipe Rey disse...

adorei esses minúsculos contos confessionais . . . se é que são contos confessionais . . . mas , no-mais , apreciei bastante , querida !