28.11.09

Até logo, América!




Punta Arenas está em clima de eleições parlamentares e a zona portuária em obras. Graças ao Sol, que não se intimidou em aparecer no domingo, foi possível fazer um reconhecimento melhor da cidade onde é fácil andar a pé, sem mapas, e não se perder. Como de praxe dominical, as ruas varridas pelos ventos estavam vazias e silentes. Ontem foi meu último dia na cidade. Agora estou no Navio Oceonográfico Ary Rangel, onde embarquei ontem e, dependendo das condições meteorológicas, partiremos nesta manhã. Se o mar estiver calmo e não tivermos que apoiar alguns projetos, devemos aportar quarta-feira na Baía do Almirantado, endereço oficial da base brasileira na Antártida.

Mesmo na última cidade antes do continente gelado, dizer que está indo à Antártida causa frisson muito parecido com o que ocorre no Brasil. Também me questionam sobre o que irei fazer, se não prefiro ficar na cidade ou por qual motivo não estou no Brasil, curtindo a primavera quente tupiniquin. A Antártida, para eles, é apenas um apelo turístico, pois a maioria das pessoas não embarca até o continente que, mesmo fazendo parte de alguns roteiros de agências de viagem, ainda é limitado à milícia, pesquisadores, jornalistas e políticos. Sim, nos últimos tempos, a base brasileira recebeu muita visita de parlamentares, como a do deputado federal sorocabano Renato Amary (PSDB), que também visitou a base. No início de 2008 foi a vez do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conhecer a casa brasileira no continente, em decorrência de um repasse de incentivo à pesquisa no local.

Antes da despedida da cidade mais austral do mundo, fui conhecer alguns pontos locais, sem roteiro, indo à mercê do vento. Primeira parada no Museu Regional de Magallanes - gratuito, acessível e com muita informação - um passeio desde a pré-história dos povos locais, explorações, desbravadores, até a formação da cidade. O Museu está instalado na antiga residência de Maurício Braun, um dos impulsionadores do desenvolvimento local. A chegada do homem branco, as lendas indígenas e a defesa chilena do território, que já vinha sendo invadido pelos europeus, estão espalhadas em fotos, utensílios e documentos - a maioria marítimos. No mesmo local, ocorria uma exposição de máscaras artesanais.

Bem próximo fica o Museu Naval, um dos locais que mais eu queria conhecer, porém estava fechado e a visita ficará para a volta, marcada para o dia 17 de dezembro. Enquanto avançamos a cidade, de encontro à zona portuária, os ventos começam a ficar mais intensos e o frio mais impiedoso. Mesmo com o peso do corpo, das roupas e de uma mochila, o sopro consegue desiquilibrar, quanto mais próximo chegamos do mar. A vista compensou: um mar azul e enfurecido quebrando numa praia de areia escura, guardava navios de diferentes cores, tamanhos e nacionalidades. Um encontro de extrema beleza entre o mar e a cidade, mas em contraste com garrafas e roupas deixadas na estreita linha de areia, tomada de conchas.
Na cidade onde as horas exatas e as horas e meia são anunciadas pelo badalar de um sino, fora cafés, bares e restaurantes, a única coisa que vi aberta no domingo foi uma casa de câmbio, já que turista é o que não falta, mesmo que muitos do próprio Chile. Nos Pubs misturam-se raças. Dizer obrigada é a senha para ouvir rasgados elogios ao Brasil e ganhar instantaneamente amigos. A simpatia pelo País é incontestável e a maioria dos chilenos tem uma história relacionada ao Brasil.

A partir de agora, a viagem tomará outras cores e formas e passará a depender exclusivamente das ordens da natureza. Quanto mais nos aproximarmos do continente, mais ficaremos à mercê das condições meteorológicas. Enquanto os oficiais da Marinha não veem a hora de cruzar o Estreito de Drake - um dos locais com condições meteorológicas mais complicadas para a navegação e que leva cerca de 36 horas para ser atravessado. Aqui, a marinheira de primeira viagem só espera ter condições físicas para continuar contando histórias da travessia. Ah, e por motivo de trabalho do oficial da Marinha sorocabano, o Eugênio, a entrevista com ele teve que ser adiada e o assunto ficará para um próximo Diário de Bordo. 

Antes do embarque, uma parada no bar do Carioca para conferir o jogo do Flamengo com a tripulação carioca. Hasta!

Nenhum comentário: