5.1.07




Não me pergunte os anos, pois os planos foram caindo todos, um a um. E hoje o dia que inauguro é também o que já entendo como póstumo. A cada fase uma frase de um livro carcomido me tinge a camiseta rota. Imagens bélicas invadem o país sem religião que, a cada estrofe, pinta um novo Deus na bandeira alheia. Eu nunca fui convincente pela manhã. O hálito das primeiras palavras é ácido também. Toda a soberba do primeiro trago e do último, eu aprendi com a espera. Esparramando idéias nas horas que desligavam o meu pulso pelo relógio. Nunca ter completado as metades quase me fez inteira. E a liberdade do espaço é como meio vazio – meio cheio de ar. Não me apresente sua crença que eu duvido ao ouvido. As minhas linhas não são milhagens e não há céu que pouse as asas de mim. Dias desses o hierofante perdeu dois dentes. Dias depois, dois minutos segurando minha mão gelada. Há mais veias que velas iluminando a passagem. Nem de todo espírito, nem de todo carne. Planos de ser coisa fluída acabaram no último verão. Escorreu toda a simplicidade mística de assunção na minha glabela desatenta, incrédula. A profecia e as manchetes de enchentes embrulham o peixe de olhos arregalados. Ninguém morre por completo no mesmo momento. Sem ao menos saber dos planos do governo. Sem ao menos saber que o instante, agora, é o tempo. Antes, a desculpa.

Um comentário:

Bruno Carvalho disse...

"E hoje o dia que inauguro é também o que já entendo como póstumo"

Adorei essa parte!

Parabéns!